Nós companheiros do BDS Brasil apoiamos a nossos companheiros do BDS Chile em seus protestos contra a presença da Companhia de Dança Batsheva e juntos concentramo-nos contra os crimes de um Estado ao serviço do qual Batsheva dança pela "rejeição da realidade" - isto é, a realidade da ocupação, o apartheid e a privação dos direitos dos palestinos-. Neste contexto, é particularmente pérfido que "Decadência" se aproprie da tradição musical árabe.
Rio de Janeiro, dezembro de 2014.
Estimados e Estimadas,
A apresentação de vosso grupo com a peça Patronato 999 metros tem sido anunciada no Festival de teatro Santiago a Mil que acontecerá em janeiro de 2015em Santiago de Chile, onde também outros artistas e grupos internacionais vão participar, incluindo a Companhia de Dança de Israel Batsheva com a peça "Decadência".
Para OhadNaharin (coreógrafo & diretor artístico de Batsheva) dança é, por um lado, “uma forma de ilusão, um momento único que permite sair da realidade”. Mas, por outro lado, tem dito: “Para mim (a dança) é uma forma de visualizar o mundo em que vivo”. Talvez esta inconsistência não seja um acidente. Olhar o mundo no qual vive OhadNaharin realmente nos sugere buscar refúgio em ilusões.
A Companhia de Dança Batsheva, entre outras, é financiada pelo Ministério de Cultura de Israel e, o que pode parecer surpreendente, também pelo Ministério de Relações Exteriores desse país. Ademais, essa companhia participa na iniciativa Marca Israel (Brand Israel) do Estado israelense. O objetivo desta iniciativa, lançada em 2005, é melhorar a imagem de Israel internacionalmente. Tenta-se conseguir isto com apresentações internacionais de artistas e grupos como Batsheva. Esta campanha é uma resposta do governo israelense ante o aumento dos protestos por todo mundo, contra a imensa quantidade de violações em massa de direitos humanos e o não cumprimento das leis internacionais por Israel (cujo ponto mais dramático recentemente têm sido os massacres cometidos contra a sitiada população civil de Gaza no inverno passado). Através de uma suposta “cultura” apolítica, tentam gerar a percepção na gente de que Israel é um país normalmente democrático, em quanto milhões de pessoas no mundo já somos conscientes de que não é verdade.
O escritor israelense Yitzhak Laor descreveu em 2008 em um artigo no jornal israelense Haaretz como funciona isso. Os artistas israelenses cujas atuações no exterior são financiadas pelo Estado, são instados a assinar um contrato onde são referidos, significativamente, como “provedores de serviço”. Através disso, se comprometem ante o Ministério a promover "os interesses políticos do Estado de Israel através da cultura e a arte", o qual inclui a projeção de "uma imagem positiva de Israel".
AryeMekel,Secretário de Cultura do Ministério de Relações Exteriores de Israel, anunciou em 2009: “Enviaremos novelistas e escritores famosos ao exterior, bem como companhias de teatro e exposições. Desta forma, mostraremos uma cara mais linda de Israel, para que o mundo não pense em nós somente no contexto da guerra” Nessa época, Israel acabava de bombardear Gaza com fósforo branco e outras armas proibidas internacionalmente e resistia ferozmente a ser pesquisada por uma comissão da ONU por crimes de guerra.
A Companhia de Dança Batsheva, não obstante, presta-se a ser uma embaixadora do Estado israelense e por tal encontrou-se com manifestações populares em massa na contramão de sua presença durante seu tour pela Inglaterra e outros países. Em cada atuação no Festival Internacional de Edinburgo e em todos os outros pontos da Inglaterra onde atuou, a companhia se encontrou com protestos e manifestações fora e dentro dos teatros baixo o sloganNão dances ao compasso do Apartheid Israelense. Assim ocorreu também em Roma e Turim.
Nós companheiros do BDS Brasil apoiamos a nossos companheiros do BDS Chile em seus protestos contra a presença da Companhia de Dança Batsheva e juntos concentramo-nos contra os crimes de um Estado ao serviço do qual Batsheva dança pela "rejeição da realidade" - isto é, a realidade da ocupação, o apartheid e a privação dos direitos dos palestinos-. Neste contexto, é particularmente pérfido que "Decadência" se aproprie da tradição musical árabe.
Com certeza, nós do movimento BDS internacional distinguimos entre um estado e seus cidadãos e sabemos que há artistas, intelectuais e ativistas israelenses que também advogam pelos direitos dos palestinos, com quem estamos ligados.
A liberdade da arte, de opinião e de imprensa é algo valioso. Representa a proteção de toda expressão, inclusive da estupidez. Mas a liberdade está também associada à responsabilidade. A esse respeito, supomos que vocês não veem vosso trabalho em um contexto desligado do mundo nem no vazio.
Portanto, escrevemos-lhes, para lhes pedir reconsiderar vossa atuação em Santiago de Chile, onde estarão em companhia duvidosa do grupo Batsheva, e que sigam o chamado dos intelectuais e artistas palestinos a somar ao boicote das instituições culturais e acadêmicas israelenses.
Encontrarão mais informação aqui:
Caso queiram saber mais, não duvidem em nos contatar.
Atenciosamente, BDS Brasil
Notas:
Atenciosamente, BDS Brasil
Notas:
- http://www.fundacionteatroamil.cl/obras/ohne-titel-nr-1-sin-titulo-1?ref=
- http://concert.arte.tv/de/ohad-naharin-und-die-batsheva-dance-company-prasentieren-deca-dance
- http://electronicintifada.net/blogs/asa-winstanley/new-pinkwashing-recruitment-campaign-israel-offers-free-travel-propaganda
- http://www.mfa.gov.il/mfa/pressroom/2006/pages/international%20brand%20israel%20seminar%20to%20be%20launched%20this%20week%20by%20the%20foreign%20ministry%2024-oct-2006.aspx
- http://www.pacbi.org/etemplate.php?id=790&key=Yitzhak%20Laor
- http://www.nytimes.com/2009/03/19/world/middleeast/19israel.html?_r=4&hp&
- http://www.no2brandisrael.org/
- http://boycottisrael.info/
- http://pacbi.org/etemplate.php?id=869
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